Metáforas
O Patinho Quenco


por Madalena Junqueira

Era uma vez um patinho que nasceu em um imenso parque situado a beira de um lago. Ele nasceu muito falante e ganhou o nome de Quenco. Sua mãe, Dona Patonica, ficou radiante e convidou todas as vizinhas, com seus filhinhos, para conhece-lo. Ele ficou feliz quando viu que tinha tantos amiguinhos para brincar.

Nesse dia sua mãe não permitiu que ele fosse brincar com os outros patinhos, porque ele ainda era muito pequenino.

Depois de alguns dias, os amiguinhos vieram convidá-lo para nadar no lago. Sua mãe não o deixou ir, pois achava o lago muito perigoso. Os patinhos, então foram sozinhos e o Quenco ficou um pouco aborrecido, pois também queria aprender a nadar. Onde é que já se viu pato que não sabe nadar!

Algum tempo se passou e Quenco foi crescendo forte, bonito, sempre ao lado de sua mãe.

Um dia os amiguinhos passaram por ali, muito alegres, fazendo a maior algazarra, vestidos com o uniforme da escola, com suas mochilinhas nas costas, cheios de cadernos, lápis de cor, borrachinhas coloridas, lancheira e muitas coisas mais.

Quenco, então, perguntou a sua mãe: - mamae, posso ir com eles a escola? Dona Patonica respondeu-lhe: - não, filhinho, você precisa ficar sempre com a mamae. Eu posso fazer companhia e brincar com você. Esses patinhos são muito bagunceiros.

Quenco ficou muito aborrecido, mas não pode fazer nada e ficou quieto num canto, imaginando como deve ser bom ir a escola. Ficou pensando assim: - lá deve ter tantas coisas interessantes para fazer, tantos amiguinhos para brincar! Dizem que as professoras são muito carinhosas e que nos ensinam a fazer coisas que as mamaes não sabem fazer. Coisas que só se aprende na escola! O que será? Estou muito curioso!

Um dos patinhos me contou que ela ensina a gente a ler e até a escrever. Puxa! Seria tão bom se eu pudesse aprender a ler. Assim eu poderia ler aqueles livrinhos de história tão bonitos que as vezes a mamae le para mim! Se eu aprendesse a escrever e a desenhar eu poderia escrever uma cartinha para a vovó e poderia fazer lindos desenhos dos meus amiguinhos que eu vejo pela janela, como os passarinhos, os esquilos, os peixinhos.

Pensando nisso, Quenco ficou tão triste que começou a chorar. Chorou muito, mas nem assim Dona Patonica o deixou sair de casa e muito menos ir a escola.

Quenco cresceu e se tornou um jovem pato. Seus amiguinhos sabiam ler escrever, nadar, jogar, dançar, brincar. Ele não sabia fazer nada disso, pois só ficava preso em casa com sua mãe.

Uma noite, olhando pela janela ele viu um dos seus amigos passar, de maos dadas, isto é, de asas dadas, com uma linda patinha, formosa e faceira, sorridente e apaixonada. Pensou: - eles devem estar namorando! Eu nunca vou poder namorar e nem me casar, pois nem ao menos sei ler nem escrever.

Começou a chorar e se lamentar da triste vida que levava. Chorou muito, muito até se cansar. Quando já estava exausto olhou para o céu, e viu cair uma estrelinha bem embaixo da sua janela. Era uma estrela tão linda, tão brilhante e tão bonita que o fez parar de chorar.

Ele perguntou para a estrelinha: - estrelinha, você que veio de tão longe, lá do céu, que já viajou tanto e aprendeu tanto nesse mundo, diga-me. Será que existe uma maneira de eu me libertar dessa vida sem graça que levo?

A estrelinha lhe respondeu: sim, Quenco, eu vou ajudar você. Vou mandar a fada Mensageira da Luz falar com sua mãe para que ela liberte você. Em troca, você fará tudo que a fada mandar. Ela vai ajudá-lo a aprender tudo o que você não sabe.

De repente ele viu a estrelinha se transformar numa linda luz, que foi entrando pelo seu quarto, na direção do quarto de sua mãe. Ficou muito feliz aguardando a manha seguinte.

Levantou-se bem cedo e foi acordar Dona Patonica. Ela lhe disse: - sabe filhinho, eu tive um sonho. Havia uma fada toda iluminada que me disse: deixe o Quenco aprender. Ele já cresceu. Chegou a hora dele viver sua vida. Ele está muito triste. Deixe-o ser feliz agora.

- Por favor, deixe, mamae? - pediu Quenco, muito entusiasmado.

- Se você quiser, eu deixo, meu filho, mas você vai ter de estudar muito para aprender tudo a partir de agora. Você está disposto? Você já pode começar as aulas hoje. A fada vai enviar-lhe professores mágicos, lá na beira do lago.

Quenco ficou tão feliz que saiu correndo na direção do lago. Começou logo com as aulas. Fez tudo que os professores mandaram e dentro de pouco tempo já havia aprendido todas as liçoes. Quando chegaram as férias ele conheceu a mais bela patinha do parque, que sorriu para ele e foram passear de maos, isto é, de asas dadas. Era sua primeira namorada. Ele lhe fez um lindo desenho e escreveu uma bela cartinha para ela.

Sua mãe, por sua vez, também aprendeu uma lição: há tempo para tudo na vida. Tempo para brincar, para passear, para ficar com a mamae, com o papai, com os amigos, com os parentes, com a vovó, vovô, para estudar e até para namorar.

E assim, todos os habitantes daquele parque viveram felizes para sempre.